O Falcão Peregrino e o Ventor 1
No Cartaxo, num prédio que tinha sido uma cavalariça, com as janelas altas onde só chegava de escadote para as conseguir abrir. Com pouca luz, ouvi um estrondo contra as vidraças de uma das quatro janelas, por onde entrava a luz. Vi uma ave pousada junto à vidraça e pensei que era um pombo. Disse-lhe que já o tirava dali, mas observei melhor e era um pombo grande de mais e verifiquei tratar-se de uma ave de rapina.
Pela forma do corpo e cores das penas, com aquela cabeça de deus Hórus, só podia ser um falcão peregrino. Saiu da janela e voltou a voar contra outra mas como não conseguia a fuga tentou uma terceira vidraça e depois de tanto bater contra os vidros e de se pendurar na parede, tentou melhor situação no chão, à minha frente.
O seu porte é mesmo semelhante ao Hórus dos egípcios. Já está pronto para fazer mais umas tentativas. Levanta voo e pronto! O ímpeto era tão grande que eu não sei como não partia os vidros ou dava cabo dele. Saí da cavalariça e deixei a porta aberta pois era a única forma que tinha de o ajudar. As outras portas estavam fechadas e a porta por onde eu saí não era visível devido a paredes que delimitavam os sítios que separavam os cavalos. Podia ser que ele visse a luz mas insistiu nas vidraças das janelas por onde a luz entrava. Comigo já cá fora, para ir em busca de uma manta para lhe colocar em cima quando estivesse no chão, continuava a ouvir os estrondos das suas tentativas no seu dilema de «ou saio ou morro».